De acordo com a consultoria global de tecnologia Thoughtworks, as mulheres representam apenas 31.7% dentro da área de TI. Dentro das organizações, a maioria das equipes de tecnologia representam no máximo 20% de representatividade feminina. Seguindo estes dados, abordamos duas desenvolvedoras para comentar um pouco de como é ser mulher neste universo e quais as principais barreiras enfrentadas por elas.
Fale um pouco sobre você e o que você faz atualmente:
Júlia: Eu sou a Júlia, tenho 21 anos e sou Desenvolvedora Web há 7 meses em uma empresa de Compliance de Porto Alegre. Comecei a estudar programação faz 1 ano, em setembro de 2020, e antes de programação eu fazia geologia na UFRGS.
Rebeca: Eu sou a Rebeca e atualmente eu possuo o cargo de Consultora de software para uma consultoria internacional. Eu trabalho como Engenheira de Software para uma das clientes norte americanas da minha empresa.
Por que você escolheu a área de TI e como começou a atuar profissionalmente?
Júlia: Minha transição para área de tecnologia foi baseada na condição financeira que eu me encontrava e eu precisava entrar logo no mercado de trabalho. Sempre tive proximidade e gostava de jogar, criar blog, utilizar HTML, Tumblr e por ser uma área emergente, decidi estudar e comecei a gostar. Comecei a atuar profissionalmente em 2021 e recém estava começando a estudar. Assim que comecei a usar o Linkedin, meu atual líder me encontrou, gostou do meu perfil de pesquisadora e achou interessante para o perfil de desenvolvedora ter essa bagagem. Era uma vaga para Javascript e comecei como assistente de desenvolvimento web e fui promovida após 3 meses para ser desenvolvedora.
Rebeca: Meu interesse por desenvolvimento web começou na minha fase adolescente “EMO”, eu criava temas pro meu Tumblr e pra minhas amigas. Quando me formei no ensino médio, consegui uma bolsa 100% pelo Prouni e comecei cursar Ciência da Computação. No terceiro semestre consegui um estágio como desenvolvedora front-end e depois fui entendendo e me especializando no que eu mais gostava.
Quando você optou por essa profissão, qual foi a reação de amigos e familiares?
Júlia: Sobre minha família, foi tranquilo! Tiveram muito medo por ter largado uma universidade federal e ter entrado em uma área nova desconhecida, mas apoiaram.
Rebeca: Minha família me deu suporte, ganhei um notebook dos meus avós para poder estudar.
Por ser mulher, quais dificuldades você enfrenta na área?
Júlia: A maior dificuldade que eu sinto, tanto no meio profissional, quanto na faculdade, é de ser ouvida. Na minha empresa tenho 20 colegas e sou a única mulher. Tenho muito desconforto quando algum homem vem explicar algo e fala como se fosse para uma criança, não me enxergam como uma colega de igual para igual. Percebo também que se eu tiver algum problema e por mais que eu já tenha a solução, eu preciso provar mais o meu ponto do que os outros desenvolvedores. Talvez eles não percebam, talvez seja inconsciente, mas fica explicito que eles me enxergam como inferior.
Rebeca: Temos que lidar com diversos tipos de assédios. Precisei muitas vezes gritar para ser ouvida, tendo que provar por A+B que estava certa.
Você se sente confortável em grupos de desenvolvedores?
Júlia: Não me sinto confortável nos grupos em geral, apenas nos grupos exclusivos para mulheres desenvolvedoras. Não sou muito ativa na comunidade porque já tenho uma amostra da dificuldade no meu ambiente de trabalho, e em um grande grupo a tendência é piorar. Muitas vezes, alguns desenvolvedores conservadores batem na tecla que realmente a programação não é para mulheres. Já ouvi que o ambiente de trabalho acaba ficando mais pesado por ter a presença feminina porque isso tira a liberdade entre os homens.
Rebeca: Na minha empresa atual sim, a empresa tem uma forte cultura de justiça socioeconômica e diversidade.
Para você, qual deveria ser o papel das empresas para mudar essa realidade?
Júlia: Eu acredito que o principal papel das empresas deve ser o ajuste no comportamento dos funcionários, porque acaba sendo fácil você vender a imagem de uma empresa diversificada, mas não proporcionar um ambiente seguro para mulheres. O ideal não é apenas contratar mais mulheres, e sim, contratar mulheres e mais pessoas que tenham consciência que o ambiente precisa ser diversificado.
Rebeca: As empresas precisam focar na contratação de mulheres, pessoas negras e etc. Entretanto, não apenas contratar e deixar sem nenhum apoio. Precisam criar um ambiente seguro para as diversidades.
Para finalizar, quais dicas você daria para uma mulher que está entrando na área?
Júlia: Minha dica é para trabalharem bastante a autoconfiança e precisamos colocar a “cara a tapa”. O principal recurso que podemos ter para sobreviver num ambiente machista é a autoconfiança, saber das suas próprias competências, desenvolver teu trabalho da melhor forma possível e mostrar que você consegue fazer o mesmo trabalho que um homem ou até melhor. Não deixar se abalar com comentários, não deixar os outros tentarem te diminuir pela tua aparência e principalmente lembrar de ter confiança no teu próprio trabalho.
Rebeca: Força e coragem. Procurem por empresas com uma cultura de diversidade.
Além de todas estas questões apontadas por elas acima, segundo o IBGE, as mulheres em 2019 ganharam apenas 77,7% do salário dos homens e em cargos de liderança a diferença só aumenta.
Por mais que as mulheres já tenham conquistado muitas vitórias ao longo dos anos no ramo profissional, é notável que ainda há um longo caminho para percorrer e por isso, é necessário que cada vez mais as empresas de TI abracem a causa e criem um espaço seguro para a diversidade.
Ricardo Demo, entusiasta por pessoas e tecnologia, estudante de psicologia pelo Centro Universitário Ritter dos Reis e Tech Recruiter pela WK JobHub.